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De Grandis, que ficou em segundo lugar no estado de São Paulo no
concurso para o Ministério Público Federal, já atuou em outros casos de
repercussão. Denunciou o ex-prefeito e deputado Paulo Maluf (PP) por envio
ilegal de dólares para o exterior e apontou crime de lavagem de dinheiro na
parceria MSI/Corinthians. Para ele, a ajuda da Inglaterra, dos Estados Unidos e
da Suíça na investigação contra Dantas promete revelar novas provas no caso.
“Já bloqueamos US$ 45 milhões do Opportunity na Inglaterra.”
Rodrigo de Grandis fala sobre - Lavagem de Dinheiro
Leia a entrevista
concedida à Folha de S.Paulo:
Como o senhor avalia os desdobramentos da
Satiagraha, em que o delegado virou investigado e o juiz Fausto De Sanctis foi
representado?
Rodrigo De Grandis — Minha avaliação é específica
da investigação sobre crimes financeiros, lavagem de dinheiro e corrupção. O
único motivo que posso atribuir a essa movimentação, que não diz respeito
propriamente ao processo, é o fato de termos atingido um conjunto de pessoas
relativamente populares, como o ex-prefeito Celso Pitta, o empresário Naji
Nahas e o banqueiro Daniel Dantas. E, evidentemente, o interesse cresceu por
conta de algumas manifestações sobre os procedimentos adotados na Satiagraha, em
especial do presidente do Supremo Tribunal Federal [Gilmar Mendes].
Mendes disse que o juiz, a Procuradoria e a PF
atuaram como milícia. O senhor concorda?
De Grandis — O que existe é um trabalho
institucional, como a lei determina. O inquérito policial ou qualquer outra
investigação policial é feita com uma única finalidade: dar provas para que o
Ministério Público ofereça uma ação penal. Por isso é natural que o Ministério
Público acompanhe o inquérito. Na Satiagraha não foi diferente. O Judiciário
foi chamado só nos momentos em que a lei exige essa intervenção, como para
autorizar a quebra de sigilo telefônico. Acho indevido falar em qualquer tipo
de consórcio. Não houve isso, mas uma articulação que, na minha opinião, é
profissional, principalmente diante de crimes complexos.
Quais os erros da investigação, a ponto de ter sido
tão criticada pelo presidente do STF?
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A participação de membros da Abin sem a anuência da
chefia da PF compromete o caso?
De Grandis — Eu tenho a plena convicção de
que a participação da Abin está fundamentada. Existe uma base jurídica sólida
para sustentar isso. É bom que se diga que faz parte do dia-a-dia da Justiça
Federal e dos processos que envolvem crimes econômicos a colaboração de outros
órgãos que possuem uma característica técnica, que não pertencem à PF.
Qual a previsão legal?
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Ele havia informado o senhor sobre a colaboração da
Abin?
De Grandis — Não.
Houve omissão do delegado ou do Ministério Público,
que não descobriu essa participação?
De Grandis — Não considero que houve
omissão do Ministério Público. Eu confio no trabalho da polícia. E me manifesto
sobre aquilo que chega formalmente ao processo. Nos informes que recebi, nunca
foi mencionada a participação da Abin. Eu acompanhava o procedimento de
interceptação telefônica e de e-mail, ambos autorizados judicialmente. Segundo
os relatórios, esses procedimentos eram realizados por pessoas da própria PF.
Houve uma omissão proposital?
De Grandis — Se o delegado omitiu do
Ministério Público, omitiu também da Justiça. Acho que o único erro foi esse,
foi o delegado não ter comunicado a participação da Abin. Bastaria um mero
ofício ao Ministério Público e ao juiz. Teríamos evitado toda essa discussão.
Se tivesse sido informado, o senhor proibiria a
participação da Abin?
De Grandis — Não, apenas pediria ao
delegado para que explicasse o motivo de ter chamado agentes e informaria o
juízo com um mero ofício. Isso teria evitado toda essa discussão, que entendo
ser infundada. Eu não sabia desse fato, mas nem por isso acho que é um motivo
invalidador de prova. Como membro do Ministério Público, tenho de analisar a
regularidade das provas e, na minha perspectiva, todas foram validamente
produzidas, inclusive as que tiveram o auxílio da Abin.
Existe o risco de as provas obtidas serem anuladas
no STF?
De Grandis — É difícil fazer uma previsão.
Acho que existem vários aspectos jurídicos a serem analisados pelos tribunais.
O Tribunal Regional Federal da 3ª Região [segunda instância] já fez uma análise
superficial da participação da Abin e não apontou nenhuma ilegalidade.
Outros países que receberam aportes financeiros do
Opportunity vieram ao Brasil para acompanhar a investigação. Já foram
produzidas provas internacionais?
De Grandis — Daquilo que pode ser
divulgado, posso dizer que há um bloqueio de US$ 45 milhões na Inglaterra e uma
conversação com as autoridades dos EUA, da Suíça e da Inglaterra sobre o caso.
Há um interesse muito grande dessas autoridades na eventual instauração de
ações penais em seus territórios contra Dantas.
Esses processos existem?
De Grandis — Não posso dizer.
A investigação brasileira depende dessa ajuda
internacional?
De Grandis — Não depende, mas pode ajudar
a revelar um novo tentáculo dessa organização criminosa. Apuramos crimes
financeiros cometidos no Brasil. A cooperação internacional pode revelar outros
delitos praticados fora do território nacional. E essas eventuais provas podem
vir a se somar sobre o que já temos, que é um conjunto razoável de provas.
Os brasileiros que enviaram dinheiro para o
exterior pelo Opportunity serão ouvidos
De Grandis — São mais de 90 pessoas. Vamos
identificá-las, saber se realmente existem, e é natural que sejam ouvidas.
Condenado a dez anos de prisão, Dantas recorrerá em
liberdade. Esse fato serviu para a "Economist" dizer que a Justiça no
Brasil não é efetiva. O senhor concorda?
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Quanto tempo pode levar o julgamento final de
Dantas?
De Grandis — É difícil falar em prazo. Eu
havia dito cinco ou seis anos, mas hoje acredito que possa levar até dez anos.
O fato de o investigado ser rico influencia uma
investigação?
De Grandis — Não sei se pelo fato de ser
banqueiro, mas as características das pessoas envolvidas incentivaram muita
gente a opinar sobre o caso.
Por que hoje há mais inquéritos contra os que
investigaram Dantas do que contra o banqueiro?
De Grandi — Não sei. Também gostaria de
saber.
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