Trailer do filme Gandhi (legenda em português)
Descendente de Brahmanes, de sua infância
em Porbandar Gandhi registra em sua autobiografia a freqüência aos locais
sagrados e de prece com a mesma naturalidade do registro de episódios
corriqueiros e cotidianos. A religião de seus ancestrais lançava profundas raízes
em seu coração. Casou-se, a exemplo de todos de sua casta e Nação àquele tempo,
ao final da infância com uma prima, também saindo da infância, Kasturbai.
Adulto, parte para estudar direito em Londres, formando-se em 1891 e
regressando a sua terra para
praticar a profissão. Dois anos depois vai, a convite, para a África do Sul,
onde trabalha com uma empresa hindu e faceia as primeiras dificuldades diante
do poderoso Império Britânico, que domina as Nações do mundo no século XIX e
primeiros lustros do XX com o mesmo poder e descaso para outros povos com que o
Império Ianque hoje.
A luta pela libertação da Índia
Em 1914 regressa à Índia em definitivo e dá início à sua luta pela
independência da dominação britânica que já dura quase 3 séculos e, com igual
vigor, pela Tradição de sua gente, em grande medida contaminada e fragilizada
diante da infecção capitalista.
Como líder político e espiritual da Índia soube utilizar-se
engenhosamente de toda a Tradição para reerguer o orgulho de sua gente, abalado
pela dominação e deu muito que pensar àqueles que se consideravam “superiores”
e por isso dominavam. Este sempre foi e segue sendo o discurso do dominador:
uma pretensa “superioridade” que, ao fim e ao cabo demonstra-se circunscrever
ao campo da belicosidade e ponto final. Gandhi centra sua luta na busca de
demonstrar a superioridade moral dos hindus sobre seus dominadores britânicos
e, assim, reaviva a mente de seus conterrâneos quanto a 2 ensinamentos, tão
antigos quanto o hinduísmo: A-HIMSA – Não violência ou, como Gandhi preferia
dizer, “Persistência pela Verdade” e SATIAGRAHA – Viver em santidade.
Tomemos a não violência. Gandhi pregava a resistência pacífica
(não confundir com passiva; a não violência deve ser ativa e provocativa!). Não
concordar em se submeter ao mal e estar disposto a dar até a vida se necessário
for, para provar que está do lado do que é justo, bom e correto. Foi assim que,
de demonstração maciça em demonstração maciça, o Império Britânico comprovou
muitas vezes a superioridade moral daquele povo oprimido e dominado.
A famosa “Marcha para o Sal” foi um ponto de inflexão decisivo. Os
Hindus, moradores da região banhada pelo Oceano não por acaso chamado de
Índico, eram proibidos de produzir sal. O sal utilizado no cotidiano de todas
as famílias tinha o fluxo, a produção e a circulação, monopolizadas pelos
britânicos. Gandhi ensina os hindus a
desobedecerem a esta sandice.
Do centro da Índia, em 1930, faz saber ao
Primeiro Ministro Britânico que se dirigiria ao mar para produzir sal num gesto
de desobediência civil, ativa,
provocativa e contudo pacífica. Foi acompanhado de um pequeno grupo e a este se
foram agregando cada vez mais significativas massas humanas. Ao fim, a história
registra que milhares de pessoas andaram mais de 320 Km a pé. Este contingente
imenso de seres humanos chega à praia e começa a fazer sal. Qual o problema? O
povo da Índia vai à praia banhada pelo Oceano Índico fazer sal para o seu
consumo. O que têm os britânicos a ver com isso?
O controle do sal estava na raiz do controle de toda a economia
hindu pelos britânicos. Tão logo Gandhi começa a fazer sal e ser imitado a
dominação é colocada em xeque. Os ingleses já não controlam os indianos. Estes
estão prestes a tomar seu destino em suas próprias mãos.
Outros fatores contribuem para a emancipação do povo hindu de
maneira diferente daquela desejada por Gandhi que, mais de uma vez, fez um
“jejum até a morte” para protestar contra a dominação britânica e pedir paz a
seu povo. Em momentos considerados cruciais para a economia britânica Gandhi
convocava o povo a “jornadas de jejum e meditação” – na prática ninguém
trabalhava, mas Gandhi jamais falava ou mesmo pensava na palavra “greve”. A
expressão apropriada dentro da Tradição hindu para o que se estava fazendo era
“Jornada de jejum e meditação”.
Um Exemplo
Admirado por aliados e adversários, foi chamado pelo Primeiro
Ministro Britânico Winston Churchill de “faquir despido”. A questão que marca
é: um faquir despido, que se alimenta com uma côdea de arroz e uma tirina
d’água por dia e se veste com uma peça de tecido feita por ele mesmo e que
muito se assemelha a uma fralda, um homem com tal forma de comportamento e
hábitos espartanos pode ser suspeito de corrupção? Alguém presumiria estar ele
lutando por algo diferente do que diz?
Albert Einstein o saudou como “porta-voz da humanidade”.

Encaminhar o processo político a partir de um resgate profundo do
que de mais sincero, bonito e duradouro existe na Tradição e na Alma de seu
povo, esta é uma das lições que nos deixa Mahatma Gandhi.
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