sábado, 10 de março de 2018

Um ensaio sobre o processo de rivalização de dois grupos no Brasil: Policiais Militares versus Movimentos Sociais


Um ensaio sobre o processo de rivalização de dois grupos no Brasil: Policiais Militares versus Movimentos Sociais


Wagner Maia Coelho
Graduando em Direito pela Universidade do Estado da Bahia e Policial Militar do Estado da Bahia. 



Aborda as políticas do Estado no processo de rivalização de dois grupos na sociedade brasileira. Esse processo promove um alto grau de antagonismo entre esses segmentos que possuem mais afinidades que diferenças, pois a ambos são negados pelo próprio estado direitos inalienáveis e seus integrantes são oriundos de camadas pobres da sociedade, contudo são levados a um enfrentamento constante e são tomados, às vezes, por sentimentos de ódio. Esses dois grupos devem se perceber nesse processo de alienação e promover uma resistência à essa forma planejada de manipulação.
Esse antagonismo simboliza a vitória de um grupo pequeno, detentor da maior parte da riqueza da nação, que sempre possuiu o poder sobre governos que serviram historicamente a seus próprios interesses. Portanto, o fim desse processo de rivalização jamais partirá do Estado com políticas públicas, pois este serve a uma minoria e precisa manter o controle do país, o fim se dará quando as massas e os agentes de segurança pública, sobretudo os policiais militares, se enxergarem não como inimigos, mas como moradores da mesma senzala na qual se encontra também os integrantes dos movimentos sociais.
  
Palavras-Chave
Movimentos sociais; Policiais militares; Governo; Rivalidade; Políticas públicas; Antagonismo; Manipulação.

An essay on the rivalry process of two groups in Brazil: Military Police vs. Social Movements

Abstract
It addresses the policies of the State in the process of rivaling two groups in Brazilian society. This process promotes a high degree of antagonism between these segments that have more affinities than differences, since both are denied by the state itself inalienable rights and its members come from poor sections of society, yet are brought into a constant confrontation and are taken, sometimes through feelings of hatred. These two groups must realize themselves in this process of alienation and promote resistance to this planned form of manipulation. This antagonism symbolizes the victory of a small group, which holds the greater part of the nation's wealth, which has always possessed power over governments that historically served their own interests. Therefore, the end of this process of rivalry will never leave the State with public policies, since it serves a minority and needs to maintain control of the country, the end will be when the masses and the agents of public security, especially the military police, if to see not as enemies but as residents of the same slave quarters in which the members of social movements are also found.

Keywords

Social movements; Military police; Government; Rivalry; Public policy; Antagonism; Manipulation.


INTRODUÇÃO

De acordo com o artigo 144 da Constituição Federal de 1988, “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”, e compete às polícias militares a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”.
Quando se trata de manutenção da ordem pública a responsabilidade também é da polícia militar, que é um órgão da administração pública direta do estado, com regime próprio, estatutário, considerada força auxiliar e reserva do Exército, portanto, MILITAR. Na CF/88, reza que a lei estadual irá disciplinar a organização e o funcionamento da polícia militar de maneira a garantir a eficiência de suas atividades, portanto, a PM é subordinada ao Governador do Estado.
Até aí está tubo bem, o problema se inicia quando os governos estaduais estruturam forças policiais não para servir à sociedade, mas aos interesses das oligarquias políticas que mandam e desmandam nos estados, permitindo uma enorme ingerência do poder econômico nas decisões políticas, Portugal (2012).
O desvio de finalidade da polícia militar é evidente nos dias atuais, a dura repressão contra os movimentos sociais tem sido algo comum no Brasil, contudo, é preciso saber quem dá a ordem para o policial reprimir os manifestantes. Essa ordem não parte apenas do comandante do grupamento ou do comandante do batalhão, pasmem! Parte do governador do estado, aquele que foi eleito democraticamente para defender os interesses do povo, porém o chefe do executivo estadual usa a força policial especializada com todos os recursos a ela inerente, como bombas de efeito moral, cassetetes, balas de borracha, cães, gás, tanques com jatos d’água etc, para reprimir manifestações de professores, estudantes, sem-terra, sem-teto e demais categorias de profissionais ou da sociedade civil organizada.
Seja qual for o objetivo da manifestação, por mais que seja legítima e justa a causa, não tardará para que a “ordem” seja dada e a força policial seja desviada da sua missão para reprimir os manifestantes.
            Muitos perguntam porque o policial não se recusa a cumprir a ordem. A resposta é simples, a polícia militar por ser força auxiliar e reserva do Exército está subordinada ao Código Penal Militar, Lei nº 1.001 de 21 de outubro de 1969 e a estatutos estaduais com regulamentos disciplinares rígidos que impõem aos policiais determinadas condutas que, se descumpridas, ensejarão no cometimento de crimes militares e transgressões disciplinares, podendo causar a prisão e até a demissão do policial que se negar a cumprir a determinação de, por exemplo, desobstruir uma via ocupada por estudantes ou retirar moradores de uma propriedade rural ou urbana durante o cumprimento de reintegração de posse.
“Estamos no mundo do regulamento, estamos no mundo da disciplina,” resume Foucault (2004a, p. 348). Nesse mundo, a disciplina é mais rígida para o policial do que para o cidadão comum. Ao desobedecer uma ordem legal o policial militar passa a cometer crimes militares contra a autoridade e disciplina militar, tais como: motim, aliciação para motim, incitamento, insubordinação, abandono de posto e descumprimento de missão, todos tipificados no CPM. Além de cometer esses crimes também irá responder administrativamente, podendo ser considerado indigno para continuar na corporação e sua demissão é inevitável.
A atuação da polícia militar na repressão das manifestações, embora seja às vezes imoral e ilegítima, é legal com base no estrito cumprimento do dever legal. De acordo com Juarez Cirino dos Santos, “o estrito cumprimento de dever legal compreende os deveres de intervenção do funcionário na esfera privada para assegurar o cumprimento da lei ou de ordens de superiores da administração pública, que podem determinar a realização justificada de tipos legais, como a coação, privação de liberdade, violação de domicílio, lesão corporal etc.

PRIMEIRO PONTO DE REFLEXÃO
Basta o policial militar agir com profissionalismo, tão somente. Então, por que muitos policiais acabam levando para o lado pessoal? Por que passam a sentir uma aversão aos integrantes dos movimentos sociais, sobretudo às suas lideranças? Mais adiante entenderemos.

MOVIMENTOS SOCIAIS
Agora vamos falar dos movimentos sociais mais atuantes no Brasil, promovidos por sindicatos, associações, ONG´s, enfim, movimentos organizados. As pautas desses movimentos sempre são a busca por direitos e garantias como também, às vezes, a luta é pela não retirada de algo que já foi conquistado a custo de muita dor, suor, lágrimas, prisão e sangue.
Na maioria das vezes suas reivindicações são legítimas e a omissão do estado em resolver esses problemas acaba forçando os integrantes desses movimentos a aumentarem o tom do discurso, chegando ao inevitável que é o bloqueio de estradas e rodovias, ocupação de prédios públicos e de propriedades na zona rural e na cidade. Quando partem para essas medidas é porque, em via de regra, o estado se mostrou totalmente alheio e insensível aos problemas desses movimentos.

CHEFES DOS PODER EXECUTIVO
Ao fazer uma análise do perfil dos chefes do poder executivo municipal, estadual e federal – são esses os responsáveis pelas negociações com os movimentos, e do perfil das pessoas físicas e jurídicas que financiam a maior parte de suas campanhas, chega-se à conclusão que, de fato, aqueles não representam o povo e quando passam a ocupar seus cargos políticos os interesses destes que detém o poder econômico, prevalecem sobre o interesse da massa de injustiçados.

PODER JUDICIÁRIO
Por que não falar do poder judiciário? Esse, cedo ou tarde, expede as ordens de reintegração de posse, determinando a polícia militar a usar a força para retirar das escolas e universidades ocupadas os estudantes, a desocupar e restituir terrenos, prédios e propriedades rurais que há tempos deixaram de cumprir sua função social como preceitua a CF/88, art. 5º, inciso XXIII, aos donos do poder econômico.

SEGUNDO PONTO DE REFLEXÃO
A mesma pergunta que foi feita lá atrás aos policiais militares será feita dessa vez aos integrantes desses movimentos: Ora! Se os policiais militares estão cumprindo determinação do chefe do poder executivo e do poder judiciário, por que na maioria das vezes o discurso de ódio é direcionado aos policiais e não aos juízes, prefeitos, governadores e ao presidente? Por que passam a sentir uma aversão aos integrantes da polícia militar, sobretudo àqueles que estão na ponta da lança que apenas cumprem ordens sob pena de serem demitidos e presos se as descumprir?
Entenderemos isso também mais adiante.

PONTO DE COLISÃO DAS DUAS FORÇAS
Conforme prometido, será feita uma análise na qual procuraremos entender como se intensifica esse sentimento de raiva entre integrantes de movimentos sociais e policiais militares. Para entendermos melhor, buscaremos exemplos práticos que podem gerar os conflitos. Imagine um movimento estudantil, apoiado pelos professores, que passa a ocupar todo um campus de uma Universidade Pública Estadual, após o governador do estado enviar uma proposta de lei à Assembleia Legislativa, na qual pretende retirar verbas da educação pública superior, que se aprovada promoverá um sucateamento da universidade, provocando um corte drástico nos investimentos para pesquisas científicas e bolsas estudantis, nas obras de infraestrutura, pagamento de serviços de limpeza, portaria e vigilância, falta de recursos para pagamento de água, luz e até tinta para impressora.
Insensível a essa causa o governo estadual, após inúmeras tentativas não senta com as lideranças para negociar um possível acordo. Com isso, a ocupação perdura por dias. Para surpresa dos manifestantes chega um oficial de justiça acompanhado por um grupamento de policiais militares, na porta do Campus, com um mandado judicial para cumprir a reintegração de posse do imóvel público, nesse caso quem determinou a retirada dos alunos foi o juiz, representante do poder judiciário.
Há casos em que a PM vai para a desocupação sem ordem judicial, mas essa iniciativa não parte dos policiais, mas do próprio governador, pois ele é o chefe das polícias estaduais, uma ordem desse tipo dada por ele ao comandante geral da polícia militar, gera uma cadeia de comandos e ordens que chega até os policiais de baixa patente forçando todos a cumprirem a determinação. E se alguém descumprir acontece o que já foi falado em linhas anteriores, perseguição, cadeia e demissão. O regime ao qual está exposto policial é ditatorial e draconiano, não perdoa os atos de desobediência praticados por policiais, que na sua grande maioria são pobres, de famílias desabastadas e que encontram na profissão os meios necessários para o sustento das suas famílias.     
Voltemos ao caso do movimento estudantil, seja lá quem dê a ordem para a desocupação - o chefe do poder executivo ou o do judiciário, os policiais deverão cumprir enquanto aqueles que determinaram estarão no conforto dos seus gabinetes, no ar-condicionado, sendo servidos por vários assessores e acompanhando as notícias da desocupação pelos meios de comunicação.
Lá no campo de batalha estarão os manifestantes resistindo à ordem de desocupação, dispostos a sofrer, certamente exaustos, com a luz e a água do campus cortadas, sem apoio da sociedade pois a grande mídia a mando do poder executivo estadual intensificou matérias jornalísticas atacando os manifestantes.
Vale destacar que os governos estaduais destinam uma parte dos seus recursos para gastar com marketing e propaganda e os meios de comunicação em massa fazem contratos vantajosos, por isso, entre está do lado de manifestantes ou do governador essas empresas de comunicação escolhem aquele que paga mais, e os revolucionários não têm com que pagar senão com suas ideologias.  
Do lado oposto aos estudantes estarão policiais militares, forçados a cumprir determinação, dispostos a cumprir sua missão o mais rápido possível e retornar para suas casas. E ainda que não seja cometido abuso de autoridade ou violência por parte dos policiais, ainda que ajam estritamente dentro da legalidade e do que preceitua as normas para esse tipo de atuação, por se tratar de uma atividade em que é necessário o contato físico e os ânimos dos manifestantes estão exaltados, as imagens chocam pela violência estatal a qual estarão submetidos os jovens.  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado todos já sabem, a ordem será cumprida, os manifestantes farão de tudo para resistir, mas não conseguirão frente à força do estado. Inevitavelmente surgirá uma revolta por parte dos manifestantes pela ação policial, não é por menos, pois levarão tiros de bala de borracha, gás de efeito moral, e outros meios de uso da força, todos permitidos pela legislação brasileira. O estado quando quer sabe usar o poder que tem para fazer uso da violência e garantir seus interesses.
A mídia que outrora fazia o jogo do governo e jogava a opinião pública contra os manifestantes, dessa vez, fará matérias bombásticas demonstrando a “violência policial” e isentará da culpa o verdadeiro responsável que determinou a reintegração.
Das semelhanças que têm os movimentos sociais com os policiais militares, essa é uma delas, a depender das circunstâncias são sempre os vilões da história. Mais uma vez a mídia não tratará do descumprimento dos acordos por parte do governo ou o prejuízo que sofrerá a sociedade com as medidas governamentais.
Esses conflitos acontecem quase que diariamente por todo o território brasileiro. Em todos os tipos de reivindicações, dos mais variados, sempre estará os policiais militares para cumprirem determinações e pôr fim às desobstruções de vias públicas ou desocupações de propriedades privadas ou públicas. 
Como culpar os integrantes dos movimentos sociais por despertarem um sentimento de repugnância contra os policiais?
E como culpar os policiais militares por despertarem um sentimento de rejeição pelo lado oposto? 
É o próprio governo que coloca de lados opostos esses dois segmentos da sociedade e sempre no final, o poder político tem se sobressaído. No Brasil há um processo organizado, planejado para a marginalização dos movimentos sociais e também a marginalização dos policiais militares, é interessante e extremamente importante para a classe econômica detentora do poder político que esses dois segmentos continuem se engalfinhando e que a sociedade os deteste.
Enquanto houver essa rivalidade muitos policiais continuarão cometendo abusos de autoridade durante as ações contra manifestantes e estes alimentarão um discurso de ódio contra a classe policial militar. Enfim, dois grupos extremamente explorados mas que estão às cegas nesse jogo político governamental implantado no Brasil.

Policiais Militares e  Integrantes de Movimentos Sociais, vós sois a massa, uni-vos!


REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
Código Penal Militar. decreto lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del1001.htm.
SANTOS, Juarez Cirino dos. A moderna teoria do fato punível, p. 187
PORTUGAL, Adriana C.; FINANCIAMENTO PÚBLICO OU PRIVADO PARA AS CAMPANHAS ELEITORAIS. Revista Brasil, Economia e Política, 2012.
FOUCAULT, M. Segurança, território, população. Paris: Gallimard, 2004a.



Dezembro de 2017.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Discurso da fundação da ASPRA BAHIA Regional Sr. do Bonfim



Discurso realizado por Wagner Coelho na câmara de vereadores da cidade de Senhor do Bonfim, durante a fundação da regional da ASPRA BAHIA naquela cidade, dia 09 de março de 2013.

Autoria de Wagner Coelho e Diego Mendes

Somos Policiais e fazemos parte de uma Instituição que é responsável por garantir a ordem e a paz pública. Como também, assegurar o funcionamento das Instituições Democráticas, assegurando os Direitos e Garantias Fundamentais consolidados na Constituição Federal de 1988.
Somos os únicos profissionais que morrem somente por sermos reconhecidos pelos marginais nas ruas, damos nossas vidas para que se mantenha a tão almejada PAZ nessa sociedade. A “Carta Magna”, diz que devemos expor nossas vidas para salvarmos o cidadão, essa carta é a mesma que viola os nossos direitos inalienáveis. Há décadas estamos calados, sendo maltratados por grupos políticos que alcançam o poder.
Todas as classes, estão organizadas politicamente na busca por direitos, valorização profissional, melhores salários e acima de tudo RESPEITO. Todos estão se unindo. No entanto, permanecemos desgarrados sendo usados por quem estar no poder. Cada um fazendo sua parte isoladamente, buscando apenas vantagens pessoais, poderemos ter melhorias pontuais, pequenas gotas, mas se nos unirmos com um objetivo comum, transformaremos essas gotas em um rio caudaloso.
Pois bem, a ASPRA nasce com a consciência da luta de classe, para formar um grupo de homens e mulheres capazes de romper as barreiras que nos separam dos nossos direitos. A negação dos direitos por parte dos governos não servirá para reduzir a nossa união, mas nos motivará para buscarmos a cidadania plena.
Por nos chamarem de BRAÇO FORTE do Estado, esquecem que temos corações, sentimentos e somos seres pensantes. Unidos mostraremos nossa força de forma democrática, buscando a justiça. A Sociedade precisa saber que por trás dos números dos nossos cadastros existem seres humanos. NÃO SOMOS apenas peças de descarte e reposição, somos pais, mães e filhos, temos vida e merecemos respeito. É com essa consciência que Policiais e Bombeiros de Senhor do Bonfim e microrregião, convidam você para construir uma Associação forte que defenda de fato os interesses da nossa classe e promova o crescimento dos seus sócios.

Venha fazer parte da nossa Associação e mostre ao mundo que você não é como uma pedra que fica “estática e muda” sendo desgastada pelas intempéries da natureza.

Através dela sua voz ecoará e será ouvida pela sociedade.

"É melhor tentar e falhar,
que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar ainda que em vão,
que sentar-se fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar,
que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco,
que em conformidade viver."

Martin Luther King